quarta-feira, 30 de maio de 2012

30 de Maio


Os dois últimos dias foram terríveis. Ontem saí de minha casa para procurar outro lugar com suprimentos para sobreviver. Tudo o que vi lá fora foi destruição. É difícil e quase impossível pensar que isso tudo começou a apenas 3 semanas, se eu visse em algum filme provavelmente acharia bobo. O problema é que estou vivendo isso, e não é nada agradável.
Quando saí de casa passei algumas horas dirigindo, desviando de alguns zumbis e vendo o tamanho do estrago que esses porras fizeram em tão pouco tempo. Teve momentos em que não achei que conseguiria, eram muitos. Então percebi que dirigir pode ser uma ideia ruim, mas é tudo o que tenho. Imagino que sair a pé não seja melhor. Tenho comigo no carro a arma com 15 cartuchos que peguei da mercearia semanas atrás, meu antigo taco de beisebol (sim, bastante conveniente), um pé de cabra que guardo no porta-malas, uma lanterna e o machado que usei na morte de meu primeiro visitante inesperado dias atrás.
Mais cedo passei na casa de meu amigo, já que ele não respondia minhas mensagens, para ver se estava bem. Cheguei lá e encontrei a porta da frente e da garagem abertas e uma daquelas coisas no quintal, totalmente perdida. Não, não era ele. Menos mal, matar um amigo não deve ser tarefa fácil. Fechei o carro, corri para dentro da casa e fechei a porta. Estava tudo muito quieto lá dentro, um ar sinistro. Fui até seu quarto, ninguém. A porta do guarda-roupa estava aberta e seu celular jogado no chão. Verifiquei e vi todas minhas mensagens lá. Agora sei por que ele não deu retorno, deve ter deixado o celular cair ali e nem pensou em voltar para buscá-lo. Um celular em um apocalipse não deve ser muito útil. Afinal, ligaremos para quem? 911? Caçadores de zumbis S/A? Acho que não. Pelo menos não encontrei sangue nem vestígios de briga. Ele deve ter esperado o momento certo e corrido até o carro, o que explica a garagem aberta, sem nem pensar em enfrentar o zumbi.
Que bom. Ao que parece ele ainda está vivo. Pena que não pudemos nos encontrar. Sabe-se lá o que ele está enfrentando agora. Saí da casa correndo de volta para o carro e parti.
Agora estou no banco de trás do meu carro, em um lugar isolado, talvez um campo de golf ou de beisebol, não vi direito, já está noite e não vi nenhuma atividade aqui e nem próxima a este local. Estacionei ao lado do muro e, com os faróis ligados, fiquei vigiando durante 20 minutos para ver se o local era digno de se passar a noite. E é. Pelo menos por hoje. Ainda não sei para onde vou, mas preciso pensar em algo. Este dilema está me enlouquecendo. Por sorte, sempre fui uma pessoa sensata.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

28 de Maio


Acabou a eletricidade. Que ótimo. Mas, eu sabia que aconteceria cedo ou tarde.
Agora preciso poupar o máximo de bateria do notebook que eu puder. Vou usá-lo somente para registrar o que eu viver nesse maldito apocalipse.
Vou passar esta noite ainda em casa e amanhã vou partir para algum outro lugar. Sobreviver. É difícil pensar nisso. Sair do meu lar e não ter mais nada para fazer se não sobreviver.
Já tenho tudo preparado no carro. Sempre fui uma pessoa preparada. Mas deixar minha casa é algo difícil, todas minhas lembranças estão nela, é impossível não ficar com aquele sentimento de perda e saudade, não ter um aconchego para voltar quando as coisas ficarem ruins, não ter nada sólido. Olho para minha casa e só consigo pensar nas coisas boas que vivenciei aqui desde criança, as brincadeiras com carrinhos, as tardes jogando basquete com os vizinhos na cesta da garagem, as voltas de bicicleta, as brincadeiras de esconder com os amigos, as guerrinhas com mangueiras, as festas de aniversário em que eu sempre me sentia envergonhado na hora dos parabéns, as brincadeiras com os primos, os finais de semana jogando videogame na casa de um amigo... Tudo tão, tão distante agora. E pensar que nenhuma criança jamais terá isso novamente. Caramba, se eu fosse depressivo, este seria o momento perfeito para me dar um tiro na cabeça, e olha que já pensei nisso. Seria tão mais fácil do que sair lá fora e ver as brutalidades que me aguardam. Mas não, não sou tão fraco. Vou lutar e sobreviver até o último suspiro que eu puder dar.
Vou descansar, afinal, será um grande dia amanhã.

domingo, 27 de maio de 2012

27 de Maio


Todos os canais de televisão ficaram fora do ar. Parece que a situação está irremediável. Na verdade, já dava para ver que não tinha volta. Podemos nos esquecer do mundo como ele era antes. Há mais zumbis do que pessoas a essa altura. As pessoas assistem ao assassinato de seus familiares e amigos sem poder fazer nada. Aos que se arriscam, acabam mortos, pois o sentimento de perda e sofrimento toma conta e você fica quase incapaz de pensar logicamente. Sei disso porque já vi acontecer mais de uma vez aqui na rua. É horrível, macabro.
A morte que causei naquele zumbi ontem me fez pensar, essas coisas já tinham famílias, amigos, uma vida. Eram exatamente como eu, talvez até mais felizes. Mas não posso manter isso dentro de mim. Se eu quiser sobreviver, terei de enfrentar meus medos e passar por cima das emoções.
Calculo que terei de sair daqui em dois dias, julgando pela comida que ainda tenho.
Não irei a nenhum forte que montaram, isso nunca funciona.
Não me resta muito que fazer se não sobreviver, buscar comida e lugares salvos para ficar.
Estive esperando meu amigo me responder, mas nada. Nem uma única mensagem dizendo “hey, estou bem, não se preocupe”. Isso tem me deixado puto. Preciso de notícias dele. Assim que eu sair daqui, vou passar na casa dele e ver se está bem. Espero que não o encontre estraçalhado no chão da sala ou transformado em um desses monstros. Ele não. Por favor.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

25 de Maio


Caralho.
Ainda estou em choque. Meu Deus, que cena horrível.
Faz poucas horas que matei pela primeira vez. Se bem que não se pode considerar homicídio, afinal de contas, aquilo já estava morto. Foi péssimo.
Sabe aquelas cenas dos filmes em que parece tão fácil e simples matar um zumbi? Bem, não é. O medo que você fica na frente de um deles, sabendo que ele quer estripar e comer você, é inigualável. É um medo que deixa você com as pernas totalmente irregulares, suas mãos tremem muito e é difícil controlar seus movimentos.
Mas precisava ser feito. Precisava ter sossego novamente.
Noite passada foi o mesmo transtorno para dormir. Quando levantei, comecei a pensar em um modo de acabar com aquilo. O plano era um pouco arriscado, mas com boas chances de dar certo.
Minha garagem não é muito grande, só cabe o carro e uma prateleira de ferramentas e utensílios que não uso mais no lado esquerdo da parede. Ali encontrei um machado, que tempos atrás, pertenceu ao meu pai para cortar lenha.
Pensei que se eu saísse, outros iriam me ver. Então só me restou uma alternativa: deixá-lo entrar. Deixei a luz ligada, peguei o controle da garagem em uma mão, o machado em outra, e me escondi atrás do carro. Apertei o botão para abrir, só o suficiente para que ele pudesse entrar e eu fechar a garagem novamente. Quando ele entrou, fui me esquivando no lado oposto do carro, sem que ele me visse. Deixei-o passar da metade do automóvel e fui por traz dele. Dei o golpe com o machado bem na cabeça. Foi horripilante. O barulho do crânio quebrando, o sangue espalhado por todo lado, até mesmo em mim, o cheiro forte... horrível. Arrastei-o para um canto da garagem e o cobri com um cobertor. Droga, eu gostava daquele cobertor.
Isso me fez repensar em como eu ficava empolgado com filmes e séries de zumbis. A realidade é muito mais cruel do que divertida.
Agora aquela cena fica se repetindo em minha mente. Mas sei que fiz o certo. Para minha própria segurança.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

24 de Maio


Que barulho do inferno. Um deles me ouviu quando fui até o carro ontem. Assim que saí da garagem ouvi batidas incessantes na porta. E continua.
Uma dessas coisas está lá desde ontem, batendo, incansável. Não sei se dormi noite passada. Não me lembro. Se dormi, foi pouco. Aquele barulho irritante e o medo daquela coisa entrar aqui e me ferrar está me deixando louco. Não consigo me concentrar em outra coisa. Preciso fazer alguma coisa para ter um pouco de sossego novamente. Também não posso simplesmente sair e dar um tiro em sua cabeça. Os que estão na rua irão me ver e o barulho vai atrair ainda mais deles. Preciso bolar alguma coisa para acabar com ele sem ser visto e sem fazer barulho. Mole mole. Como se eu fosse um ninja também.
Além disso, meu amigo mandou-me uma mensagem há poucos minutos. Disse que agora só resta um dos feiosos, como ele chama, na casa. Presumo que o outro foi embora, frustrado, por não achar ninguém para fazer sua humilde refeição. Disse também que encontrou um pedaço de metal no guarda-roupa, aquele em que se penduram as roupas, e vai tentar abate-lo. A ideia parece boba, admito, mas nessas circunstâncias é tudo o que lhe resta. Dois dias trancado em um espaço tão pequeno, com apenas o pouco de água que guardava no quarto e um celular inútil nesta ocasião. Some isso ao fato de não poder ir ao banheiro. Eu faria o mesmo. Só me resta esperar notícias.
Paciência nunca foi meu forte. Não gosto deste sentimento de incapacidade. Estou me odiando pelo fato de não poder fazer nada por ele. E se acontecer o pior? Nunca vou me perdoar. Sei que não posso fazer nada, mas o peso disso vai me derrubar. Melhor não pensar nisso neste momento.
Preciso me concentrar no meu problema. Se eu não acabar logo com isso, as batidas chamarão a atenção de outros, aí sim terei problemas.