terça-feira, 26 de junho de 2012

26 de Junho

Nem consigo explicar a sensação de comer uma comida quente, salgada, com pratos e talheres, exatamente como era antes de toda essa merda começar.
Fizemos ontem um pequeno jantar e foi muito bom. Luz de velas, mesa improvisada dentro da loja, conversas de pessoas normais... Queria poder acordar disso tudo e voltar para minha porcaria de emprego e vida entediante que tinha antes.
Era melhor assistir séries, ver filmes, e estourar a cabeça deles nos videogames do que na vida real.
A vida real é cruel.
Você nunca sabe o que pode encontrar ao virar a cabeça.
Você não pode salvar e dar um tempo do que está acontecendo.
Você não pode morrer e voltar para o início. Bem, isso até que sim, considerando nossa realidade.
Aprendi muito nesses tempos horríveis nos quais passamos nesse mundo ofuscado pela crueldade.
Aprendi a me virar por conta própria.
Aprendi a superar situações com rapidez.
Pouco a pouco fui perdendo minha humanidade, assim como todos os outros que conseguiram sobreviver.
Doug e Chrissy têm sido meus pilares de conforto. Não sei o que faria sem eles.
E isso que eu comecei pensando em nunca me envolver com outros, não expressar sentimentos... Besteira.
Você não pode simplesmente ignorar quando vê um menino de 7 anos na rua sem um braço, com a cara totalmente desfigurada e ainda assim de pé, firme, com um único pensamento: alimentar-se de sua carne. Isso é brutal demais para qualquer um.
Você não pode ignorar quando pensa em como tudo já foi um dia e como tudo está agora. Isso não te dá forças para continuar, no momento em que você cria algum tipo de esperança, você lembra que o mundo jamais passará do que está agora, e isso te destrói.
Não há como determos TODOS esses zumbis malditos e retomarmos nossa vida.
A raça humana está extinta.
Uau. Isso sim é algo que faz você pensar seriamente em dar um tiro na própria cabeça, pelo menos assim você não precisa mais enfrentar todo sofrimento que é lá fora somente para SOBREVIVER. Nada mais do que disso.
É triste. É brutal. É cruel. É foda.
É o apocalipse.

Provavelmente ficarei sem postar por um tempo.
A bateria do notebook está nos seus últimos 6% e a comida que obtemos ontem naquela casa é suficiente para um bom período sem preocupações.
Além do mais, estamos seguros aqui nesta cidade, pelo menos por enquanto.
Até mais.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

25 de Junho

Hoje saímos para buscar alimentos em alguma casa das redondezas.
Correu tudo bem, para surpresa de todos.
Fomos eu, meu amigo e Chrissy. Doug achou melhor ficar aqui para “cuidar” de Alicia. Nem vou comentar. Pervertido.
Saímos pela tarde e estacionamos em um posto de gasolina aqui perto, se bem que tudo é perto nesta cidade. O posto era pequeno, mas as bombas de gasolina ainda estavam cheias.
Enchemos o tanque e fomos em direção à primeira casa que aparentava ter suprimentos guardados.
Era uma casa bonita, bonita demais para aquela cidade. Era um enorme prédio branco de dois pisos com amplo gramado frontal. Passamos por ele e entramos na casa, cautelosos.
Meu amigo ficou lá fora vigiando enquanto eu e Chrissy vistoriávamos a casa em busca de alguma coisa. Fizemos a ronda e não encontramos nada, exceto as portas dos guarda-roupas abertas e algumas peças avulsas atiradas pelos quartos que foram esquecidas pela falta de tempo. Aquela família deve ter saído às pressas mesmo.
Depois de tudo verificado, corremos em direção à cozinha com as esperanças à mil. Abrimos todas as portinhas e gavetas em busca de vestígios de comida.
Nada.
Pelo menos não ali.
Quando já estávamos desanimando, vimos um pequeno quartinho escondido ao lado da enorme geladeira (a qual já estava com um péssimo cheiro por conta da falta de energia). Arrombamos a porta e ali estava.
Uma mina de ouro.
Aquele pequeno espaço reservava quilos e mais quilos de alimentos não perecíveis.
Chrissy e eu nos olhamos fixamente e em segundos abrimos um sorriso de orelha a orelha.
Ali tinha pacotes de feijão, arroz, sal, açúcar, galões de água e tudo o que precisávamos para ter uma bela vida em meio a essa triste realidade apocalíptica.
Chamamos meu amigo para invadir a grama e trazer o carro mais próximo da casa, pois havíamos achado muita coisa. Seus olhos brilharam e, num pulo, ele trouxe o carro até quase a porta, onde pudemos carregá-lo totalmente de alimentos.
De mais, não tivemos problemas sérios, apenas alguns zumbis atraídos pelo som do jipe enquanto estivemos na casa. Mas nada com que não pudéssemos cuidar com sigilo.
Pegamos também algumas panelas, pratos, talheres, fósforos, e um fogareiro que encontramos no fundo do pequeno quarto. Na pressa de sair para um ‘lugar seguro’, nem pensaram em olhar lá dentro, isso é notável, ou pegar grandes coisas daquela casa. Deveriam ter achado que era uma situação temporária. Não os culpo. Aliás, melhor para nós.
No banheiro ainda conseguimos encontrar um pequeno kit de primeiros socorros, o que foi uma benção, pois até então estávamos desprovidos de um no caso de emergências.
Aquela família (ou pessoa) estava muito bem preparada de víveres. Se não fosse loucura, eu até diria que estava preparada para um apocalipse. Deveria ser a casa de alguém influente naquela pequena cidade, pois pelo tamanho da casa e das coisas que havia nela, pobres não poderiam ser.
Voltamos para nossa pequena ‘pousada’ improvisada e avisamos Doug e Alicia de nosso feito. Os dois reluziram de alegria e nos ajudaram a descarregar. À medida que tirávamos as coisas do jipe, íamos ficando cada vez mais bobo-alegres com aquilo. Não pudemos acreditar na sorte que tivemos encontrando tudo aquilo.
A alegria nos rodeia e hoje à noite teremos comida quentinha esperando por nós.
Mal posso esperar.

sábado, 23 de junho de 2012

23 de Junho

Não senti necessidade de escrever nada nesses últimos dias.
Não teve muito que escrever, o que é bom, pois foram dias em que estivemos longe da morte, para variar um pouco.
Estivemos naquela casa um tanto quanto afastada da cidade até hoje.
Os dias lá foram tranquilos. Pudemos relaxar novamente, o que é uma benção nestes dias.
Acho que a maioria de nós conseguiu dormir uma noite inteira novamente. Antes dormíamos, no máximo, 4 ou 5 horas quando não tínhamos que ficar de vigília.
Pudemos nos distrair um pouco da realidade cruel em que o mundo se encontra. Jogamos cartas, conversamos como pessoas normais, rimos...
Rolou até um romance entre Doug e Alicia. Mas nisso nem quero me aprofundar.
O fato é que tivemos que sair daquela casa, pois a água acabou, como já esperávamos.
Quando vistoriamos o galpão, encontramos duas motocicletas velhas encobertas com uma lona preta. Serviram bem até chegarmos à cidade. Mas precisamos de outro veículo porque somos em 5 então uma motocicleta sempre fica meio cheia e pesada demais.
Quando chegamos à próxima cidade, não vimos nada além do que já esperávamos.
Por sorte, esta é uma cidade pequena, ou seja, quando tudo começou as pessoas não tiveram tanto tráfego para enfrentar na hora de sair da cidade, consequentemente há menos zumbis aqui. Pelo lugar, julgo que deveria haver cerca de quatro mil pessoas morando aqui. Típica cidade do interior.
Porém, estes são lugares fáceis para as tropas militares buscarem alimentos. Entram e saem rapidamente, quase sem serem notados. Para nosso azar.
Pelo menos temos um lugar para ficar por algum tempinho. Nas casas por aqui deve haver comida, só temos que ser rápidos, objetivos e cuidadosos quando formos pegar.
Estamos em uma loja de utensílios domésticos. O lugar é legal por ter vários pontos onde podemos nos esconder, caso precisemos. O ruim daqui é que a loja tem a frente formada por vitrines de vidro e precisamos cobrir tudo com jornais. Nem acredito que conseguimos fazer sem sermos notados.
Ficaremos por aqui um tempo. Já estamos nos organizando para buscar suprimentos em algum local. Não deve ser difícil. Nosso maior problema era a enorme quantidade de zumbis que havia em nossa cidade. Aqui só precisamos ser cautelosos que não tem problema algum. Assim espero.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

20 de Junho

Hoje acordamos ao som de nosso jipe sendo roubado.
Que maravilha, hein.
Lucas, o irmão revoltado, tomou nosso único veículo e se mandou porque não conseguiu aguentar a morte de seu irmão. Me perdoe, mas se você está em um apocalipse e ainda conseguiu sobreviver, deve estar preparado para este tipo de coisa.
Não me preocupo com Lucas. No seu estado emocional ele não vai longe. Que sirva de lição.
Quando a raiva passou, nos preparamos para partir. Tivemos que caminhar sem rumo naquele interior maldito. Por um lado é bom porque não temos que nos preocupar com uma legião de zumbis loucos por nossa carne, só alguns perdidos exatamente como nós. Ainda bem que Lucas não roubou nosso carro enquanto estávamos na cidade, porque se tivesse feito, eu iria atrás dele só para matá-lo.
Caminhamos vários quilômetros em busca de algum lugar para ficar. Mas o interior nesta parte do mundo é cruel. Devemos ter caminhado perto de 10 km até acharmos uma pequena casa aparentemente inabitada.
Passamos a cerca de madeira, já castigada pela velhice, e fomos em direção à casa. Era um lugar simples, um grande quintal, casa de madeira, um galpão velho e um lugar onde antes havia sido um belo jardim.
Passamos do quintal até chegarmos à porta.
Batemos para ver se havia algum resquício de vida.
Nada.
Abrimos a porta e entramos naquela velha casa.
O lugar era pequeno, mas bem aconchegante. Parecia estar tudo no lugar, como se nunca houvesse acontecido um apocalipse. As cadeiras estavam enfileiradas corretamente contra a mesa de jantar. As poltronas da sala direcionadas à TV. A pia estava limpa. Por um momento cheguei a pensar que ali ainda estivessem morando pessoas, até que entrei em um quarto e uma sensação de náusea tomou conta de mim. Tampei o nariz e entrei naquele pequeno cômodo fedorento.
Ali encontrei uma enorme mancha de sangue na parede, uma velha mulher esticada no chão, já sem a parte traseira da cabeça, e uma espingarda ao seu lado. Estava claro que aquela mulher havia tirado a própria vida.
Deduzo que, mediante aos fatos apresentados na TV, por não ter família (digo isso por que a casa não tinha nenhum quadro ou retrato de pessoas), por ser uma pessoa de mais idade e sem forças suficientes para se defender quando aquelas coisas chegassem, deve ter achado mais fácil tirar a própria vida e “ir para um lugar melhor”, sem dor e sem risco de virar uma dessas coisas.
Com ajuda de Doug, retiramos a idosa daquele quarto, pois o cheiro estava realmente insuportável, a levamos para fora e a enterramos dignamente. Depois disso fechamos aquele quarto, diminuindo muito o cheiro nojento que permanecia ali.
Demos a volta na casa e fomos para os fundos.
Lá encontramos uma pequena caixa d’água. Foi o ponto alto do dia.
Todos puderam tomar um banho novamente, o que foi ótimo, mesmo sendo com água gelada.
Verificamos a geladeira e, ao abrirmos a porta, um cheiro podre penetrou em nossos poros. Havia muita carne ali, o que é uma pena, porque estavam todas estragadas.
Na despensa, encontramos um estoque de verduras em conserva, que eu realmente detesto, diga-se de passagem, mas não estou em posição de recusar nada.
Passaremos a noite aqui, talvez até mais algum tempo, pois ainda resta água na caixa e queremos aproveitar para não termos de usar a nossa.
O perigo de um zumbi vir até aqui sempre existe, mas a casa tem trancas que aguentarão, no mínimo, até acordarmos e estarmos em posição para nos defender.
Agora vamos sentar no quintal dos fundos e apreciar as estrelas e a luz do luar, enquanto ainda temos este privilégio.