Hoje
acordamos ao som de nosso jipe sendo roubado.
Que
maravilha, hein.
Lucas, o
irmão revoltado, tomou nosso único veículo e se mandou porque não conseguiu aguentar
a morte de seu irmão. Me perdoe, mas se você está em um apocalipse e ainda
conseguiu sobreviver, deve estar preparado para este tipo de coisa.
Não me
preocupo com Lucas. No seu estado emocional ele não vai longe. Que sirva de
lição.
Quando a
raiva passou, nos preparamos para partir. Tivemos que caminhar sem rumo naquele
interior maldito. Por um lado é bom porque não temos que nos preocupar com uma
legião de zumbis loucos por nossa carne, só alguns perdidos exatamente como
nós. Ainda bem que Lucas não roubou nosso carro enquanto estávamos na cidade,
porque se tivesse feito, eu iria atrás dele só para matá-lo.
Caminhamos
vários quilômetros em busca de algum lugar para ficar. Mas o interior nesta
parte do mundo é cruel. Devemos ter caminhado perto de 10 km até acharmos uma
pequena casa aparentemente inabitada.
Passamos a
cerca de madeira, já castigada pela velhice, e fomos em direção à casa. Era um
lugar simples, um grande quintal, casa de madeira, um galpão velho e um lugar
onde antes havia sido um belo jardim.
Passamos
do quintal até chegarmos à porta.
Batemos
para ver se havia algum resquício de vida.
Nada.
Abrimos a
porta e entramos naquela velha casa.
O lugar
era pequeno, mas bem aconchegante. Parecia estar tudo no lugar, como se nunca
houvesse acontecido um apocalipse. As cadeiras estavam enfileiradas
corretamente contra a mesa de jantar. As poltronas da sala direcionadas à TV. A
pia estava limpa. Por um momento cheguei a pensar que ali ainda estivessem
morando pessoas, até que entrei em um quarto e uma sensação de náusea tomou
conta de mim. Tampei o nariz e entrei naquele pequeno cômodo fedorento.
Ali
encontrei uma enorme mancha de sangue na parede, uma velha mulher esticada no
chão, já sem a parte traseira da cabeça, e uma espingarda ao seu lado. Estava
claro que aquela mulher havia tirado a própria vida.
Deduzo
que, mediante aos fatos apresentados na TV, por não ter família (digo isso por
que a casa não tinha nenhum quadro ou retrato de pessoas), por ser uma pessoa
de mais idade e sem forças suficientes para se defender quando aquelas coisas
chegassem, deve ter achado mais fácil tirar a própria vida e “ir para um lugar
melhor”, sem dor e sem risco de virar uma dessas coisas.
Com ajuda
de Doug, retiramos a idosa daquele quarto, pois o cheiro estava realmente
insuportável, a levamos para fora e a enterramos dignamente. Depois disso
fechamos aquele quarto, diminuindo muito o cheiro nojento que permanecia ali.
Demos a
volta na casa e fomos para os fundos.
Lá encontramos
uma pequena caixa d’água. Foi o ponto alto do dia.
Todos
puderam tomar um banho novamente, o que foi ótimo, mesmo sendo com água gelada.
Verificamos
a geladeira e, ao abrirmos a porta, um cheiro podre penetrou em nossos poros.
Havia muita carne ali, o que é uma pena, porque estavam todas estragadas.
Na despensa,
encontramos um estoque de verduras em conserva, que eu realmente detesto,
diga-se de passagem, mas não estou em posição de recusar nada.
Passaremos
a noite aqui, talvez até mais algum tempo, pois ainda resta água na caixa e
queremos aproveitar para não termos de usar a nossa.
O perigo
de um zumbi vir até aqui sempre existe, mas a casa tem trancas que aguentarão,
no mínimo, até acordarmos e estarmos em posição para nos defender.
Agora vamos
sentar no quintal dos fundos e apreciar as estrelas e a luz do luar, enquanto
ainda temos este privilégio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário