quarta-feira, 20 de junho de 2012

20 de Junho

Hoje acordamos ao som de nosso jipe sendo roubado.
Que maravilha, hein.
Lucas, o irmão revoltado, tomou nosso único veículo e se mandou porque não conseguiu aguentar a morte de seu irmão. Me perdoe, mas se você está em um apocalipse e ainda conseguiu sobreviver, deve estar preparado para este tipo de coisa.
Não me preocupo com Lucas. No seu estado emocional ele não vai longe. Que sirva de lição.
Quando a raiva passou, nos preparamos para partir. Tivemos que caminhar sem rumo naquele interior maldito. Por um lado é bom porque não temos que nos preocupar com uma legião de zumbis loucos por nossa carne, só alguns perdidos exatamente como nós. Ainda bem que Lucas não roubou nosso carro enquanto estávamos na cidade, porque se tivesse feito, eu iria atrás dele só para matá-lo.
Caminhamos vários quilômetros em busca de algum lugar para ficar. Mas o interior nesta parte do mundo é cruel. Devemos ter caminhado perto de 10 km até acharmos uma pequena casa aparentemente inabitada.
Passamos a cerca de madeira, já castigada pela velhice, e fomos em direção à casa. Era um lugar simples, um grande quintal, casa de madeira, um galpão velho e um lugar onde antes havia sido um belo jardim.
Passamos do quintal até chegarmos à porta.
Batemos para ver se havia algum resquício de vida.
Nada.
Abrimos a porta e entramos naquela velha casa.
O lugar era pequeno, mas bem aconchegante. Parecia estar tudo no lugar, como se nunca houvesse acontecido um apocalipse. As cadeiras estavam enfileiradas corretamente contra a mesa de jantar. As poltronas da sala direcionadas à TV. A pia estava limpa. Por um momento cheguei a pensar que ali ainda estivessem morando pessoas, até que entrei em um quarto e uma sensação de náusea tomou conta de mim. Tampei o nariz e entrei naquele pequeno cômodo fedorento.
Ali encontrei uma enorme mancha de sangue na parede, uma velha mulher esticada no chão, já sem a parte traseira da cabeça, e uma espingarda ao seu lado. Estava claro que aquela mulher havia tirado a própria vida.
Deduzo que, mediante aos fatos apresentados na TV, por não ter família (digo isso por que a casa não tinha nenhum quadro ou retrato de pessoas), por ser uma pessoa de mais idade e sem forças suficientes para se defender quando aquelas coisas chegassem, deve ter achado mais fácil tirar a própria vida e “ir para um lugar melhor”, sem dor e sem risco de virar uma dessas coisas.
Com ajuda de Doug, retiramos a idosa daquele quarto, pois o cheiro estava realmente insuportável, a levamos para fora e a enterramos dignamente. Depois disso fechamos aquele quarto, diminuindo muito o cheiro nojento que permanecia ali.
Demos a volta na casa e fomos para os fundos.
Lá encontramos uma pequena caixa d’água. Foi o ponto alto do dia.
Todos puderam tomar um banho novamente, o que foi ótimo, mesmo sendo com água gelada.
Verificamos a geladeira e, ao abrirmos a porta, um cheiro podre penetrou em nossos poros. Havia muita carne ali, o que é uma pena, porque estavam todas estragadas.
Na despensa, encontramos um estoque de verduras em conserva, que eu realmente detesto, diga-se de passagem, mas não estou em posição de recusar nada.
Passaremos a noite aqui, talvez até mais algum tempo, pois ainda resta água na caixa e queremos aproveitar para não termos de usar a nossa.
O perigo de um zumbi vir até aqui sempre existe, mas a casa tem trancas que aguentarão, no mínimo, até acordarmos e estarmos em posição para nos defender.
Agora vamos sentar no quintal dos fundos e apreciar as estrelas e a luz do luar, enquanto ainda temos este privilégio.

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