Que barulho
do inferno. Um deles me ouviu quando fui até o carro ontem. Assim que saí
da garagem ouvi batidas incessantes na porta. E continua.
Uma dessas
coisas está lá desde ontem, batendo, incansável. Não sei se dormi noite
passada. Não me lembro. Se dormi, foi pouco. Aquele barulho irritante e o medo
daquela coisa entrar aqui e me ferrar está me deixando louco. Não consigo me
concentrar em outra coisa. Preciso fazer alguma coisa para ter um pouco de
sossego novamente. Também não posso simplesmente sair e dar um tiro em sua
cabeça. Os que estão na rua irão me ver e o barulho vai atrair ainda mais
deles. Preciso bolar alguma coisa para acabar com ele sem ser visto e sem fazer
barulho. Mole mole. Como se eu fosse um ninja também.
Além disso,
meu amigo mandou-me uma mensagem há poucos minutos. Disse que agora só resta um
dos feiosos, como ele chama, na casa. Presumo que o outro foi embora,
frustrado, por não achar ninguém para fazer sua humilde refeição. Disse também que
encontrou um pedaço de metal no guarda-roupa, aquele em que se penduram as
roupas, e vai tentar abate-lo. A ideia parece boba, admito, mas nessas circunstâncias
é tudo o que lhe resta. Dois dias trancado em um espaço tão pequeno, com apenas
o pouco de água que guardava no quarto e um celular inútil nesta ocasião. Some
isso ao fato de não poder ir ao banheiro. Eu faria o mesmo. Só me resta esperar
notícias.
Paciência
nunca foi meu forte. Não gosto deste sentimento de incapacidade. Estou me
odiando pelo fato de não poder fazer nada por ele. E se acontecer o pior? Nunca
vou me perdoar. Sei que não posso fazer nada, mas o peso disso vai me derrubar.
Melhor não pensar nisso neste momento.
Preciso me
concentrar no meu problema. Se eu não acabar logo com isso, as batidas chamarão
a atenção de outros, aí sim terei problemas.
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