Acabou a
eletricidade. Que ótimo. Mas, eu sabia que aconteceria cedo ou tarde.
Agora
preciso poupar o máximo de bateria do notebook que eu puder. Vou usá-lo somente
para registrar o que eu viver nesse maldito apocalipse.
Vou passar
esta noite ainda em casa e amanhã vou partir para algum outro lugar.
Sobreviver. É difícil pensar nisso. Sair do meu lar e não ter mais nada para
fazer se não sobreviver.
Já tenho
tudo preparado no carro. Sempre fui uma pessoa preparada. Mas deixar minha casa
é algo difícil, todas minhas lembranças estão nela, é impossível não ficar com
aquele sentimento de perda e saudade, não ter um aconchego para voltar quando
as coisas ficarem ruins, não ter nada sólido. Olho para minha casa e só consigo
pensar nas coisas boas que vivenciei aqui desde criança, as brincadeiras com carrinhos,
as tardes jogando basquete com os vizinhos na cesta da garagem, as voltas de bicicleta,
as brincadeiras de esconder com os amigos, as guerrinhas com mangueiras, as
festas de aniversário em que eu sempre me sentia envergonhado na hora dos
parabéns, as brincadeiras com os primos, os finais de semana jogando videogame
na casa de um amigo... Tudo tão, tão distante agora. E pensar que nenhuma criança
jamais terá isso novamente. Caramba, se eu fosse depressivo, este seria o
momento perfeito para me dar um tiro na cabeça, e olha que já pensei nisso. Seria
tão mais fácil do que sair lá fora e ver as brutalidades que me aguardam. Mas não,
não sou tão fraco. Vou lutar e sobreviver até o último suspiro que eu puder
dar.
Vou
descansar, afinal, será um grande dia amanhã.
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