Ainda
estamos em cima deste prédio imundo. O barulho que eles fazem na porta é
insuportável. Ninguém conseguiu dormir de noite e a comida que tínhamos, como
falei ontem, só daria para uma refeição.
E esta
refeição foi hoje.
Se Doug
não vier no resgatar estaremos mortos em três dias. Talvez até alguém enlouqueça
até lá.
Pelo menos
teve uma coisa boa em meio a toda essa desgraça: meu amigo, aquele que ficou
preso no armário com dois zumbis dentro de sua casa, está aqui!
Sim.
Ontem, quando tudo estava acontecendo e estavam todos aflitos e com medo, não
conseguimos nos identificar. Além do mais, ele está barbudo e com o cabelo
raspado. Quase não o reconheci. Eu tive a oportunidade de fazer a barba no
posto há poucos dias atrás e desde então carrego comigo o gilete.
Quando nos
encaramos e percebemos quem era quem foi fantástico. Há muito tempo não sentia
algo assim. A emoção de reencontrar uma pessoa querida nesses tempos é alucinógena.
Nos abraçamos por alguns segundos e conversamos por longas horas. Se não fosse
pela situação em que nos encontrávamos naquela hora, encurralados e com zumbis
batendo incessantemente na porta, seria um dia perfeito.
Bom,
conversamos até notarmos que havia algo de errado com uma pessoa do grupo
deles.
James,
como era chamado, começou a suar sem parar. Seus olhos lacrimejavam, seu corpo
estava pendendo para frente e para traz em um ritmo constante e estava
murmurando coisas sem nexo.
Quando
fomos até ele para pedir-lhe o que havia de errado notamos a causa do problema.
Ele havia
sido mordido.
Não é de
se admirar. Ontem foi uma loucura lá embaixo.
Foi um
milagre todos sairmos sem ferimentos. Exceto James, é claro.
Não
pudemos notar nada até hoje pela manhã, quando os sinais se tornaram visíveis.
Ele estava
infectado e precisava de ajuda. De uma forma ou de outra ele iria morrer. Se
não fosse por algum de nós, a febre faria o trabalho e o traria de volta em
forma não humana em minutos.
Um homem
forte, com aparência atlética e muito chocado com a situação toda, aproximou-se
de James com a arma de Chrissy. Sentou-se ao seu lado até seu último momento em
vida. Assim que ele faleceu, puxou o gatilho diretamente em sua cabeça.
Mais tarde
descobri que ele era seu irmão, Lucas.
Não posso
imaginar o quão árduo deve ter sido atirar na cabeça de seu próprio irmão. Mas
a decisão foi dele.
Depois de
todo esse clima mórbido rondando-nos, pude conhecer as pessoas de lá. Prometi a
mim mesmo que não faria nenhum laço de amizade com eles, pois se algo desse
errado, assim como no forte, eu não aguentaria perder mais pessoas com quem me
apeguei.
Além de
James, que não pude conhecer, fui incapaz de conversar com seu irmão Lucas. Ele
estava totalmente abalado e chorava sem parar a morte de seu irmão. Imaginei-me
em seu lugar e odiaria ter que conversar com um estranho em uma hora dessas.
Vi uma
pequena mulher vindo em minha direção se apresentar. Chama-se Alicia. Meiga,
bonita, cabelos louros cacheados, 30 e poucos anos e muito simpática. Era ela
que cuidava dos negócios lá embaixo.
Depois de
um tempo, voltei a conversar com meu amigo. Perguntei-lhe como havia parado ali
e ele me disse (meio escondido) que foi meio que ele quem trouxe aqueles zumbis
da rua até ali. No início eram apenas alguns poucos, mas parece que essas
bestas farejam você. Ele estava fugindo e viu essas pessoas na locadora. Na
hora não pensou duas vezes antes de pedir para que o deixassem entrar. Os
zumbis foram chegando cada vez mais e mais e acabaram ficando presos. Depois de
alguns dias a comida foi acabando e foi quando nos avistaram com o jipe.
Relembramos
nossa infância juntos, as brincadeiras, a adolescência até a nossa fase adulta.
Não pudemos controlar o tanto de emoções que vinham à tona naquela hora. Nos
olhamos profundamente e nem precisamos de palavras para expressar nossa
tristeza. Ambos tínhamos dúvidas se sairíamos vivos dali. Sabíamos que o mundo
havia acabado e que todas as pessoas com quem tínhamos algum vínculo estavam
mortas.
Chrissy
viu nossa situação e se aproximou. Disse-nos que Doug nunca nos abandonaria,
não depois de tudo o que passamos juntos. Tentei acreditar naquelas palavras, mas
bem lá no fundo a sensação de desconfiança batia forte.
De
qualquer forma, precisamos sair daqui até amanha.
A comida
acabou e resta apenas 1 garrafa d’água para 5 pessoas.
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