segunda-feira, 18 de junho de 2012

18 de Junho


Ainda estamos em cima deste prédio imundo. O barulho que eles fazem na porta é insuportável. Ninguém conseguiu dormir de noite e a comida que tínhamos, como falei ontem, só daria para uma refeição.
E esta refeição foi hoje.
Se Doug não vier no resgatar estaremos mortos em três dias. Talvez até alguém enlouqueça até lá.
Pelo menos teve uma coisa boa em meio a toda essa desgraça: meu amigo, aquele que ficou preso no armário com dois zumbis dentro de sua casa, está aqui!
Sim. Ontem, quando tudo estava acontecendo e estavam todos aflitos e com medo, não conseguimos nos identificar. Além do mais, ele está barbudo e com o cabelo raspado. Quase não o reconheci. Eu tive a oportunidade de fazer a barba no posto há poucos dias atrás e desde então carrego comigo o gilete.
Quando nos encaramos e percebemos quem era quem foi fantástico. Há muito tempo não sentia algo assim. A emoção de reencontrar uma pessoa querida nesses tempos é alucinógena. Nos abraçamos por alguns segundos e conversamos por longas horas. Se não fosse pela situação em que nos encontrávamos naquela hora, encurralados e com zumbis batendo incessantemente na porta, seria um dia perfeito.
Bom, conversamos até notarmos que havia algo de errado com uma pessoa do grupo deles.
James, como era chamado, começou a suar sem parar. Seus olhos lacrimejavam, seu corpo estava pendendo para frente e para traz em um ritmo constante e estava murmurando coisas sem nexo.
Quando fomos até ele para pedir-lhe o que havia de errado notamos a causa do problema.
Ele havia sido mordido.
Não é de se admirar. Ontem foi uma loucura lá embaixo.
Foi um milagre todos sairmos sem ferimentos. Exceto James, é claro.
Não pudemos notar nada até hoje pela manhã, quando os sinais se tornaram visíveis.
Ele estava infectado e precisava de ajuda. De uma forma ou de outra ele iria morrer. Se não fosse por algum de nós, a febre faria o trabalho e o traria de volta em forma não humana em minutos.
Um homem forte, com aparência atlética e muito chocado com a situação toda, aproximou-se de James com a arma de Chrissy. Sentou-se ao seu lado até seu último momento em vida. Assim que ele faleceu, puxou o gatilho diretamente em sua cabeça.
Mais tarde descobri que ele era seu irmão, Lucas.
Não posso imaginar o quão árduo deve ter sido atirar na cabeça de seu próprio irmão. Mas a decisão foi dele.
Depois de todo esse clima mórbido rondando-nos, pude conhecer as pessoas de lá. Prometi a mim mesmo que não faria nenhum laço de amizade com eles, pois se algo desse errado, assim como no forte, eu não aguentaria perder mais pessoas com quem me apeguei.
Além de James, que não pude conhecer, fui incapaz de conversar com seu irmão Lucas. Ele estava totalmente abalado e chorava sem parar a morte de seu irmão. Imaginei-me em seu lugar e odiaria ter que conversar com um estranho em uma hora dessas.
Vi uma pequena mulher vindo em minha direção se apresentar. Chama-se Alicia. Meiga, bonita, cabelos louros cacheados, 30 e poucos anos e muito simpática. Era ela que cuidava dos negócios lá embaixo.
Depois de um tempo, voltei a conversar com meu amigo. Perguntei-lhe como havia parado ali e ele me disse (meio escondido) que foi meio que ele quem trouxe aqueles zumbis da rua até ali. No início eram apenas alguns poucos, mas parece que essas bestas farejam você. Ele estava fugindo e viu essas pessoas na locadora. Na hora não pensou duas vezes antes de pedir para que o deixassem entrar. Os zumbis foram chegando cada vez mais e mais e acabaram ficando presos. Depois de alguns dias a comida foi acabando e foi quando nos avistaram com o jipe.
Relembramos nossa infância juntos, as brincadeiras, a adolescência até a nossa fase adulta. Não pudemos controlar o tanto de emoções que vinham à tona naquela hora. Nos olhamos profundamente e nem precisamos de palavras para expressar nossa tristeza. Ambos tínhamos dúvidas se sairíamos vivos dali. Sabíamos que o mundo havia acabado e que todas as pessoas com quem tínhamos algum vínculo estavam mortas.
Chrissy viu nossa situação e se aproximou. Disse-nos que Doug nunca nos abandonaria, não depois de tudo o que passamos juntos. Tentei acreditar naquelas palavras, mas bem lá no fundo a sensação de desconfiança batia forte.
De qualquer forma, precisamos sair daqui até amanha.
A comida acabou e resta apenas 1 garrafa d’água para 5 pessoas.

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