Hoje faz 1
mês. 1 mês que tudo isso começou. Não dá para acreditar na rapidez com que esse
vírus se espalhou e infectou as pessoas transformando o mundo em que conhecíamos
nessa verdadeira bagunça monstruosa. Eu fico pensando no que eu estaria fazendo
nessas horas em circunstâncias normais. Talvez assistindo televisão, vendo um
filme, tomando um café, talvez estivesse na internet vendo as atualizações dos
amigos nas redes sociais, vendo se alguém me deixou um recado, comentou alguma
coisa sobre mim... Coisas tão mundanas e bobas que parece que isso aconteceu há
anos. Lembro-me de como costumava reclamar sobre a vida, reclamar do tédio de
sábado à noite e de todas as coisas chatas do dia-a-dia. Hoje eu daria um braço
para voltar a ter tudo aquilo, minha casa, meu carro, meu emprego chato, meu
dinheiro, meus amigos, minha televisão, minha cama... coisas bobas, insignificantes
e sem valor. Hoje estamos aqui neste posto, que está sendo ótimo, de verdade,
dormindo no chão, economizando tudo, passando a maior parte do tempo pensando
no que fazer no dia seguinte.
Doug disse
que nesta hora estaria fechando a loja e indo para casa tomar um banho e jantar
com sua família. Chrissy é meio quieta para este tipo de coisa. Ela é um mistério,
e para mim está ótimo, contanto que não seja alguém querendo me jantar.
Nossos dias
nesse posto estão acabando. Provavelmente amanhã sairemos daqui. Estamos
levando tudo o que julgamos necessário, a não ser pelo notebook, é claro, que
para eles não tem por que eu ficar levando. Na verdade Chrissy sempre me lança
um olhar que me apavora quando o pego para escrever. Ela não vê sentido em
ficar escrevendo, sendo que não tem uma pessoa no mundo que verá isso. Mas já
cansei de explicar que isso é uma terapia para mim, poder contar tudo que me
acontece sem ninguém ficar julgando. Para mim é importante, além do mais me
mantém ocupado, ficamos muito tempo sem fazer nada e isso é de dar nos nervos.
Perguntei
para eles se nos manteríamos unidos. A resposta foi um olhar embaraçoso entre
os três e uma conclusão confusa. Mas pelo que percebi eles querem que nos
mantenhamos juntos, afinal é mais chance de sobrevivermos. Agora só falta acharmos
um propósito para ir atrás.
Não tenho
muito que escrever, pois estamos aqui dentro sem muita opção do que fazer e
estamos aproveitando o tempo para descansar antes de sairmos novamente. Não
sabemos o que nos aguarda lá fora desta vez e estamos bem no meio da cidade.
Definitivamente não podemos ficar aqui.
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