terça-feira, 5 de junho de 2012

05 de Junho


O dia foi muito sociável hoje, talvez o mais sociável da minha vida patética. Conversei com muitas pessoas, umas mais do que outras, algumas me acharam esquisito, outras gostaram de mim. Na verdade fiquei surpreso por algumas não me acharem esquisito.
Uma das pessoas com quem gostei de conversar foi Martha. Ela é a cozinheira ‘chefe’ por aqui. Tem por volta de 60 anos e é muito inteligente. Trabalhava em uma confeitaria antes de tudo isso começar. Contou-me que estava na cidade de passagem, visitando uma amiga que não via há tempos e teve de deixar seu marido e filho em casa. Agora está aqui, sem saber deles, torcendo para que não tenha acontecido nada, assim como outros estão. Disse que com toda a correria do dia em que souberam o que estava acontecendo, sua amiga foi pega por um estranho qualquer na rua, que a devorou ali mesmo. Deve ter sido uma cena tremendamente brutal. E apesar de toda tristeza de Martha, ela sempre traz um sorriso no rosto e gestos amigáveis. Queria saber como fazer isso. Foi ela quem me ofereceu o primeiro prato de comida quando cheguei aqui. Ela é amigável e querida por todos aqui, e não posso discordar de ninguém, somente de Peter que é paranóico e acha que ela está infiltrada aqui. Infiltrada para fazer o que? Me pergunto. Enfim, me disseram que ele é pirado e não devo me importar. Mas, se ele é meio louco, pode ser um grande problema aqui.
Tive a oportunidade de conhecer Doug, o carinha da besta. É um sujeito focado. Tem 32 anos e trabalhava na loja do pai. Ele conhece bastante sobre armas e sabe se cuidar sozinho, embora se culpe muito pela morte de seu pai. Ele tem um ódio mortal por essas criaturas, um ódio de verdade. Disse que seu pai estava fechando a loja quando uma dessas coisas entrou e agarrou o braço dele, cravou suas unhas e o mordeu. Foi tudo rápido e quando Doug saltou do balcão para ajudá-lo já era tarde demais. Se ele não tivesse o matado naquela hora, teria assistido seu pai ser mastigado na sua frente. Que bela merda. Doug parece ter gostado de mim, embora eu tenha ficado com um pouco de medo dele.
Conheci também o “comandante” deles, Marko. Homem forte, determinado, meticuloso e calculista. Ele estava com sua tropa ajudando no combate dos zumbis quando se viu com menos da metade de sua equipe ainda viva, tendo que recuar para se salvar. Acharam esta fábrica e trouxeram o máximo de pessoas que conseguiram na hora para cá, fecharam-se aqui e se esconderam por um dia, para não atrair a atenção. Marko não tem família, assim como eu, sendo este o motivo de querer servir ao exército. Seu pai era militar e sempre quis que seu filho seguisse seus passos servindo à pátria. E Marko está fazendo isso bem até demais.
Pensei em falar com Pablo, mas me disseram que não era uma boa ideia. Ele é esquentado, fala merda e está puto com essa situação toda, e ninguém sabe ao certo quem é ele, só que é perigoso. Vejo aí alguém que pode causar problemas.
Conversei um pouco com Danni e Anna, irmãos, perderam os pais em um acidente de avião quando estavam vindo para cá. Com tanta loucura e pressão nos pilotos quando os aeroportos ficaram lotados no início disso tudo, não me admira que alguns voos tenham caído mesmo.
As crianças daqui são legais, não sei bem o que dizer porque sempre fico constrangido com crianças, mas elas são muito inocentes, não sabem que o mundo está ferrado.
Conheci também Chrissy, ela sim tem um estilo macabro. Gostei dela. Não é uma garota mesquinha e cheia de manias. Tem 24 anos, cabelo curto, tem umas tatuagens, usa uma calça rasgada, um All Star preto, óculos escuros, uma jaqueta preta e tem uma arma pendurada nas costas. É o Blade versão feminina. Deve ser mais corajosa do que eu. Tem que ser, depois de tudo que passou. Contou-me que sua infância foi marcada por uma família que não dava a mínima para ela e prometeu para si mesma que quando crescesse não deixaria isso acontecer de novo. Se envolveu com drogas e foi presa, passou 2 anos lá, sentindo na pele tudo que uma cadeia pode oferecer, humilhação, várias brigas e ameaças de morte. Saiu poucos dias antes de tudo isso começar. Apesar disso ela é uma garota com os pensamentos no lugar, é articulosa e implacável.
Depois de algumas histórias, volto a dizer, é bom não ter a família nessas horas, tudo que eu teria seria preocupação e sofrimento se os perdesse. Assim pelo menos já superei suas mortes.
Parece que estão fazendo um churrasco ou algo do tipo. Fizeram uma pequena fogueira e estão sentando em círculo. É bom ter algum momento de descontração em meio a tudo isso. Vou me juntar a eles e aproveitar enquanto ainda tem carne para comer. Sem ser a nossa.

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